O economista e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Ladislau Dowbor, participou da terceira mesa de debates da 23ª Conferência Nacional dos Bancários, debatendo sobre “Qual sistema financeiro o Brasil precisa?”.
Para Ladislau Dowbor, não há solução para a categoria bancária se não tiver uma racionalidade para o sistema financeiro. “O sistema financeiro tem que ser útil para a sociedade. Para mim, a luta do bancário não é de proteger o passado, proteger os direitos, proteger o emprego. Se trata de defender o sistema do qual está inserido. Se o sistema financeiro não for útil para o desenvolvimento do país, ele terá porque existir e não gerará empregos.”
O professor acredita que a categoria dos bancários é quem conhece afundo o sistema financeiro. Por isso ele tem de estar na mão da categoria. “O nosso sistema de crédito foi cooptado e o agente regulador está na mão dos regulados”, reforçou.
“O sistema financeiro não é um setor, é uma dimensão de tudo que a gente faz. A gente sabe o que a gente precisa. Nós temos que ter uma sociedade que seja economicamente viável, socialmente justa, mas também sustentável. Os bancários precisam generalizar essa compreensão de que o dinheiro tem de ser produtivo. O dinheiro não é dos bancos, o dinheiro é das pessoas e tem que voltar para elas, não apenas gerar riquezas para as instituições financeiras”, completou o professor.
“O problema não é de onde vem o dinheiro, o problema é para onde vai. O que importa é o que você faz com o dinheiro. Essa é a essência do crédito, o crédito pode ser produtivo.”
Dowbor alertou para a necessidade de pensar o sistema pelo viés da justiça e da produtividade. “Existe a dimensão da produtividade do dinheiro. No Brasil, o governo repassa o dinheiro para os bancos, que não repassam a verba para saúde ou educação ou a área que for. Com regulação e bancos estatais, podemos ter uma alocação racional de recursos. Por exemplo, está comprovado que para cada dólar que eu gasto com saneamento básico, deixo de gastar quatro com doenças. Tenho aí uma alocação de recursos que geram efeitos multiplicadores”, argumentou.
Uma solução seria a reforma financeira, taxando lucros e dividendos e criando uma lei que regulamente a agiotagem, além de uma reforma bancária, “para romper com o oligopólio dos bancos”, descentralizando o sistema e, em alguns casos, promovendo estatizações.
“Temos um pedágio improdutivo no nosso sistema financeiro, os bancos, por que depender deles? Podemos pensar em reformas como a que foi feita na Califórnia, que autorizou os municípios a criarem bancos públicos municipais, imitando a Alemanha. Os alemães não guardam dinheiro no banco, eles têm caixas de poupança da comunidade. O que muda? Você tem o dinheiro nas mãos da própria comunidade. Juntando isso ao dinheiro dos impostos que os municípios recebem, cada cidade pode assumir as rédeas do seu próprio desenvolvimento”, exemplificou.
Para tanto, “precisamos de um Banco Central”, revogando a questão da autonomia para devolver à entidade a condição de agente regulador. Dowbor foi mais além, dizendo que, ao fortalecer o Banco Central, seria possível eliminar completamente os órgãos intermediários, os grandes bancos. As transações financeiras ocorreriam diretamente entre o BC e a sociedade ou pequenos bancos cooperativos, deixando de financiar intermediários. “Hoje ninguém vai mais à agência, é tudo online, então seria possível fazê-lo”, agregou.
Fonte: Contraf-CUT