Por Rita Serrano
As mulheres chegaram formalmente ao mercado de trabalho no começo do século passado. As duas grandes guerras consolidaram sua presença, mas, apesar do aumento na escolaridade e nível de comprometimento, ainda não ocupam postos de comando nem recebem salários similares aos dos homens. E, agora, com a reforma previdenciária anunciada pelo governo, podem ser as principais prejudicadas.
Ou seja, trabalhamos mais, ganhamos menos e temos menos poder até em empresas com políticas específicas, como a Caixa. E se não protestarmos nesse momento poderemos ser as mais penalizadas não só na Previdência quanto pela terceirização. Mudar esse jogo é uma batalha que precisa ser de todos, mulheres e homens que acreditam em um mundo justo e fraterno.
Como temos dupla ou até mesmo tripla jornada, nos múltiplos papéis que desempenhamos, a reforma previdenciária só reforça a desigualdade já existente e piora as condições de trabalho e vida das brasileiras. Os indicadores são claros: em 2004, trabalhávamos quatro horas a mais que os homens por semana, somando-se aqui a ocupação remunerada e o trabalho feito dentro de casa. Em 2014, a dupla jornada feminina passou a ter cinco horas a mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que reúne informações de mais de 150 mil lares.
A mesma pesquisa revela que, mesmo com o aumento do desemprego, os homens não dedicaram mais tempo aos afazeres domésticos. A jornada deles dentro de casa permaneceu a mesma de dez anos atrás: dez horas semanais. Além disso, temos salário 30% inferior e, quando nos aposentamos, o benefício é menor. A situação é ainda mais grave para trabalhadoras rurais, idosas, mulheres negras e agora também as professoras, que com a reforma perdem o direito à aposentadoria especial. Como em geral acabam se responsabilizando pelos cuidados com crianças e idosos, como têm empregos em condições mais precárias, sem registro formal, as mulheres também acabam, muitas vezes, sendo excluídas da proteção previdenciária.
Na Caixa, que mantém há uma década um programa de diversidade para, entre outros propósitos, a valorização do trabalho feminino, a situação não é diferente. De acordo com dados do Balanço de Sustentabilidade de 2015, 45% dos empregados do banco são mulheres e, se somados a estagiárias e prestadoras, esse número chega a 50%. A maioria das empregadas (64%) está na faixa dos 41 anos, e apenas 9,3% são negras (contra 13,72% de homens negros).
Nesses 10 anos, embora a empresa tenha tido duas presidentas, não parece ter vingado de fato a política de igualdade de oportunidades. Nos cargos de comando estão só 10% das empregadas, enquanto 40% ocupam funções gerenciais. E no CA há hoje apenas uma conselheira titular, já que ainda não tomei posse – ter sido eleita foi sem dúvida um avanço para os trabalhadores e em especial para as mulheres, mas ainda é muito pouco perto das gritantes diferenças.
Será ocupando esses e outros espaços de poder que poderemos inovar e avançar, não apenas no CA ou na empresa, mas nos sindicatos, nos parlamentos e em todas as instâncias em que possamos levar nossa voz e nossas reivindicações por igualdade. Protestar para impedir uma reforma previdenciária que penaliza ainda mais as brasileiras é também mais um passo nessa longa luta pelos direitos das mulheres, e vários eventos têm essa reivindicação como pauta neste dia 8 e durante o mês de março. Participe: juntas, sempre seremos mais fortes!
Rita Serrano é conselheira eleita pelos empregados no CA da Caixa; coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e dirigente sindical dos Bancários do ABC, é graduada em História e mestra em Administração