Representantes dos trabalhadores do Banco do Brasil que participaram por dois dias do 35º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (35º CNFBB), em São Paulo, aprovaram eixos de luta pela defesa do banco público, voltado ao desenvolvimento do país, além da sustentabilidade e perenidade da Cassi e da Previ.
O encontro abordou temas importantes que impactam diretamente à categoria, como a questão da Soberania Nacional e a importância do BB para o desenvolvimento do país. Os participantes também tiveram reflexões sobre a Previ e à Cassi.
Os eixos aprovados são os seguintes:
1 – Defesa da função pública do Banco do Brasil, essencialmente quanto ao desenvolvimento econômico e social, da agroecologia e da agricultura familiar;
2 – Expansão do PRONAF, volta do DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável) e maior apoio à agricultura familiar;
3 – Abertura de agências em municípios desbancarizados;
4 – Novo concurso (cumprindo efetivamente a cota de PCDs);
5 – Fim das terceirizações;
6 – Distribuição de dividendos em proporção que garanta investimentos no setor produtivo, assegurando o desenvolvimento econômico e social do Brasil;
7 – Revisão dos processos de financiamento ao agro, aprofundando o cuidado para garantir a produção sustentável tanto com viés ambiental, como o retorno para a garantia de alimentos para o Brasil;
8 – Ampliação do atendimento à população nas agências com maior movimento em regiões carentes e/ou periféricas;
9 – Ampliação de postos de trabalho, garantindo o atendimento de caixa e preenchimento de claros;
10 – Que o banco se responsabilize para que efetivamente não aconteça desvios éticos para cumprimento de metas;
11 – Fim do assédio moral e metas abusivas;
12 – Previdência: defesa da governança da PREVI e do modelo de gestão paritária pelos funcionários do banco; o papel dos órgãos controladores/reguladores. Planos e aspectos dos perfis de investimentos;
13 – Os funcionários do Banco do Brasil devem seguir na defesa intransigente da Previ, cujo modelo de governança prevê a gestão compartilhada entre a empresa patrocinadora, por sua indicação com a representação dos funcionários, por meio democrático de eleição participativa, o que garante a permanência da robustez da sua governança impedindo interferência externas, seja do mercado ou de governos, com respeito inequívoco aos órgãos controladores e reguladores competentes;
14 – A Previ deve ser para todos, com tratamento isonômico aos egressos de bancos incorporados, com direito à adesão ao plano PREVI Futuro e seus benefícios;
15 – Saúde: modelo de custeio e sustentabilidade do plano de associados da Cassi; Adoecimento e saúde mental;
16 – Os funcionários do Banco do Brasil devem seguir na defesa intransigente da Cassi, objetivando o fortalecimento da caixa de assistência, em modelo de autogestão e patrocínio do empregador;
17 – A forma de custeio não pode se basear tão somente na folha de pagamento, sendo necessária a busca de outras fontes de receitas oriundas do patrocinador. Com as premissas de aumento da contribuição patronal para 70% (setenta por cento), sem aumento na contribuição do associado;
18 – A Cassi é para todos e deve ser garantida a isonomia de tratamento para os egressos dos bancos incorporados e funcionários que ingressaram no Banco após a reforma estatutária de 2018;
19 – É de fundamental importância que o banco informe precisamente os dados do EPS (exame periódico de saúde) e do adoecimento profissional;
20 – Necessário incluir a cirurgia de afirmação de gênero/redesignação sexual no rol de procedimentos da Cassi, custeadas pelo banco, com apoio das instituições no acolhimento de pessoas trans;
21 – Fortalecer e ampliar as CliniCassi e a rede credenciada;
22 – O banco deve, ainda, cumprir de imediato as diretrizes da NR1;
23 – Campanhas: Em Defesa do Banco do Brasil; Menos Metas Mais Saúde; Contra o Assédio Moral; Dias de Luta em todas as datas de negociação sobre a Cassi.
Confira sobre os debates ocorridos no encontro:
CONJUNTURA E O PAPEL DO BANCO DO BRASIL
A primeira mesa do 35º CNFBB, com o tema “Análise de Conjuntura e o Papel do Banco do Brasil”, contou com apresentações do sociólogo Jessé Souza e de Rosângela Vieira, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico).
Na sua intervenção, Jessé Souza abordou como o pensamento escravista que as elites impuseram ao Brasil se perpetua até hoje, sob diferentes máscaras.
“Neste país existe uma cultura de golpe de estado para garantir o saque do Estado pela elite e o monopólio do capital cultural para a classe média branca. Essas classes são um bloco de poder contra o povo. O povo contamina a Europa que eles imaginam que esse país poderia ser. Isso explica a nossa irracionalidade e mantém a legitimação do escravismo. Finge-se que existe sufrágio universal, mas quando são os pobres e pretos que elegem, montam um golpe de estado”, disse o sociólogo.
Por sua vez, Rosangela Vieira trouxe para a mesa dados macroeconômicos e sobre o resultado semestral do BB, que teve queda de 40,7% em 12 meses.
A economista demonstrou que três fatores criaram uma “tempestade imperfeita”, que impactou negativamente o resultado do BB: Selic alta; aumento expressivo da inadimplência do agro, dos grandes produtores agrícolas; e a Resolução CMN nº 4.966 que, dentre outros pontos, estabeleceu o critério de perdas esperadas, o que – dado o peso da carteira agro (33% da carteira total do BB) e do seu nível de inadimplência superior a 90 dias (4,21% no segundo trimestre) – ampliou o provisionamento no Banco do Brasil (R$ 29 bilhões no primeiro semestre, crescimento de 45% em relação ao mesmo período de 2024).
PREVI: O PAPEL DOS ASSOCIADOS NA GESTÃO DOS FUNDOS DE PENSÃO
Na sequência, foi realizada a mesa sobre a Previ, a caixa de previdência dos funcionários do BB. Participaram João Fukunaga, presidente da Previ; Wagner Nascimento, diretor de Seguridade; Paula Goto, diretora de Planejamento; e Márcio de Souza, diretor de Administração.
A mesa foi iniciada com um ato simbólico em defesa da Previ e da sua governança, seguido por uma atividade proposta por Wagner Nascimento, diretor de Seguridade da Previ, sobre práticas previdenciárias.
Na sua intervenção, Fukunaga fez uma enfática defesa do corpo técnico e da gestão paritária da entidade. “Esse corpo técnico, formado por associados, por colegas do BB, que garante todos os nossos investimentos. Ao contrário do que vemos na mídia, é um corpo técnico qualificado, que defende o seu próprio futuro e o nosso futuro. A outra fortaleza, com certeza, é a gestão paritária, com eleitos e indicados pelo banco (…) O nosso modelo de gestão é o que garantiu a perenidade da Previ até hoje.”
“O nosso maior tesouro é a nossa governança, a participação dos associados na gestão. Qualquer proposta que venha a colocar em risco essa participação deve ser rechaçada. A regra de o patrocinador indicar diretores com pelo menos 10 anos de associação na Previ e a eleição de diretores pelos associados é o nosso melhor processo seletivo”, reforçou Márcio de Souza.
Por fim, Paula Goto destacou avanços na promoção da diversidade na Previ e anunciou a adesão da entidade ao manifesto da Contraf-CUT de tolerância zero para casos de violência e assédio.
SAÚDE E AS NEGOCIAÇÕES DO CUSTEIO DA CASSI
Após a pausa para o almoço, teve início a última mesa de debates do 35º CNFBB, que teve como tema a Cassi e as negociações sobre o seu custeio. Participaram da mesa Alberto Alves Junior, diretor de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes da Cassi; e Fernando Amaral Baptista Filho, diretor de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento.
Alberto Junior iniciou sua intervenção falando sobre o adoecimento dos bancários do BB, acarretado pela cobrança abusiva por metas. “Não existe paz. Quando batem a meta, no dia seguinte a meta já é outra.”
Para ele, o BB é o grande responsável pelo déficit na Cassi, não só pelo adoecimento dos trabalhadores devido ao modelo de gestão do banco, mas também pela redução da remuneração média, o que impacta nas contribuições para o plano de saúde. “Estamos brigando para que o banco assuma a sua responsabilidade pelo dano que está sendo causado na saúde do associado e também na assistência.”
Por sua vez, Fernando Amaral Baptista Filho pontuou que a Cassi é o item mais importante para os trabalhadores do BB e citou a economia de mais de R$ 3 bilhões nas despesas. “Mesmo diante dos desafios para atender com qualidade todos os participantes, fomos capazes de economizar mais de R$ 3 bilhões entre 2019 e 2024. Porém, ainda precisamos lidar com o equilíbrio, porque a arrecadação do Plano Associados é menor do que o custeio”, declarou.
De acordo com o diretor de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes da Cassi, o principal problema no custeio é a redução da participação do BB ao longo dos anos. “A remuneração tem que ser conforme com o que a gente produz. E a tecnologia tem que se a favor do ser humano. Nesse sentido, é possível melhorar a participação do banco no custeio da Cassi”, concluiu.
PLENÁRIA FINAL
Após as mesas de debates, foi realizada a plenária final do 35º CNFBB, na qual foram aprovados os eixos do plano de lutas dos bancários do BB.
A coordenadora da CEBB (Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil), Fernanda Lopes, avaliou que as lideranças dos trabalhares saem do encontro com “um plano de lutas muito bem definido. Pensando no Banco do Brasil que queremos, que atue como banco público, mas também cuide dos seus funcionários. Queremos que os funcionários tenham tranquilidade para trabalhar, não adoeçam. Temos hoje uma cobrança de metas muito grande. E as pessoas querem ser reconhecidas. Não querem adoecer. Também tiramos um plano de defesa da Previ e da Cassi. E também para os funcionários dos bancos incorporados”.
Fonte: Contraf-CUT e Sindicato dos Bancários de São Paulo