Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados do Banco Central, aponta que 42% dos municípios do país não possuem nenhuma agência bancária. Em 7% não existe qualquer tipo de atendimento bancário. Os dados mostram que, de janeiro a abril de 2020, foram fechadas 283 agências bancárias no país. Destas 194 foram fechadas após o início da pandemia no país.
“Os bancos alegam que o atendimento é realizado por meios eletrônicos e pela internet. As filas de pessoas que procuram atendimento presencial para receberem o auxílio emergencial de R$ 600 nos mostra que as pessoas mais necessitadas e os idosos não são contemplados pelos meios eletrônicos e pela internet. Assim, ao fechar agências, os bancos deixam de cumprir sua obrigação social, que é oferecer serviços bancários para todos” alerta a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
“E não me venha dizer que o atendimento destas pessoas é obrigação da Caixa. O serviço bancário é uma concessão pública regulada por lei específica e pela Constituição Federal. Todo o sistema financeiro tem a obrigação de garantir o atendimento para todo cidadão brasileiro. Mas, os bancos privados concentram sua atuação apenas na região Sudeste, especialmente no estado de São Paulo e, ainda assim, nos bairros mais centrais, onde está a população de maior poder aquisitivo”, critica a presidenta da Contraf-CUT.
A série histórica mostra que, de dezembro de 2012 a abril de 2020, os cinco maiores bancos do país fecharam mais de 3.000 agências bancárias e que, naquela época, os bancos atendiam em 66% dos municípios. Atualmente, atendem apenas 58%.
SITUAÇÃO CRÍTICA
O levantamento do Dieese ainda mostra que, em alguns estados, a situação é extremamente crítica, como em Roraima, onde dos 15 municípios, apenas quatro contam com agências bancárias. Em três deles existem apenas agências de bancos públicos. Bancos privados, apenas na capital. “As pessoas precisam se deslocar por longas distâncias, indo para outras cidades para poder contar com os serviços de um banco. Em grande parte das vezes, quando encontram, precisam enfrentar longas filas, porque os bancos, além de reduzir as agências, também estão reduzindo o quadro de funcionários”, disse a economista Vivian Machado, do Dieese, uma das responsáveis pelo levantamento das informações.
A Caixa Econômica Federal, por exemplo, chegou a ter 101.484 empregados em 2014. Nos resultados do balanço do 1º trimestre de 2020, o banco informou que possui 84.113 trabalhadores em seu quadro de pessoal. Em número de agências, o banco público chegou a ter 3.414 agências em março de 2017 e, hoje, conta com 3.372 unidades, uma redução de quase 10%.
“Além disso, a sobrecarga de trabalho e a cobrança crescente de metas de produtividade adoecem os bancários, que algumas vezes se afastam para tratar a saúde, isso cria um ciclo vicioso que exauri os trabalhadores”, afirmou o coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa, Dionísio Reis, lembrando que as poucas contratações que foram feitas ocorreram graças à atuação da Contraf-CUT, que conseguiu manter válido o concurso realizado em 2014, mas que elas são insuficientes para suprir a necessidade de pessoal.
Para a presidenta da Contraf-CUT, além de prejudicar a população, o fechamento de agências prejudica também a economia das cidades que ficam sem unidades bancárias. “As pessoas vão até outras cidades para sacar o dinheiro e, em geral, realizam suas compras por lá mesmo, para não terem que circular com os recursos. O comércio dos municípios sem atendimento bancário fica à mingua”, explicou.
CONCENTRAÇÃO REGIONAL
A economista do Dieese afirma ainda que os bancos privados concentram sua atuação na região Sudeste, em especial no estado de São Paulo. “Isso é constatado não apenas no número de agências, mas também na concessão de crédito. Os bancos privados concedem mais crédito na região Sudeste, enquanto, nas outras quatro, a maior parte do crédito é dos bancos públicos, chegando próximo aos 90% no Norte, Centro-Oeste e Nordeste e a 80% no Sul”, informou a economista do Dieese.
Dados do Banco Central apontam que 90,1% do crédito concedido na Região Norte tem origem nos bancos públicos; no Centro-Oeste, 87,1% provém de bancos públicos; no Nordeste, 89,1% e no Sul, 78,5%. Na Região Sudeste, que concentra mais de 70% da carteira de crédito no país, 72,8% provém dos bancos privados.
O estado de São Paulo, sozinho, concentra quase 58% do total do crédito do país. E, por se tratar do estado mais rico do país, 82% do crédito vêm dos bancos privados.
“Por isso é tão importante defendermos os bancos públicos. São eles que atendem as necessidades da sociedade. Os bancos privados se preocupam com o lucro, com a rentabilidade que terão com o negócio”, concluiu a presidenta da Contraf-CUT.
Fonte: ContrafCUT